Você já ouviu falar sobre Lean Construction, mas não faz ideia de como essa metodologia funciona? Então você precisa aprender o quanto antes.
Mesmo com os avanços da tecnologia e dos processos, a construção civil ainda está num estágio em que há muito desperdício, tanto de tempo quanto de recursos. A boa notícia é que o Lean Construction, também conhecido como construção enxuta, veio para mudar a forma como o mercado enxerga e realiza o processo construtivo.
Neste artigo, eu vou te mostrar o que é Lean Construction, qual a sua importância para o setor e quais são os 5 princípios que norteiam essa metodologia de trabalho. Boa leitura!
O que é Lean Construction?
O termo Lean Construction tem a ver com “enxugar” processos desnecessários que atrapalham uma obra, muitas vezes sem ninguém perceber.
Por exemplo: quando você vai elaborar o orçamento da sua obra, como você considera as atividades que representam o fluxo de materiais e pessoas em seu canteiro? Você sabia que esses fluxos chegam a representar mais de 50% do tempo em sua obra?
A filosofia do Lean faz exatamente isso, não por ser um modismo, mas porque há comprovação em diversos canteiros, que esse método faz toda diferença nos prazos, custos e qualidade de sua obra.
Assim, com base em análises cuidadosas e outras ferramentas, é possível encontrar etapas desnecessárias, que atrapalham a obra, e eliminar cada uma delas.
Em outras palavras, o Lean Construction é uma forma de construir em menos tempo, gastando menos e de maneira mais simples e com mais qualidade. Tudo isso graças a uma forma de visualizar diferente a sua produção, desde o planejamento, recebimento dos materiais até a entrega dos serviços.
Qual é a importância do Lean Construction para as construtoras
Não é novidade que a construção civil tem alto nível de desperdício e baixa produtividade em seus canteiros. Para você ter uma ideia:
Uma pesquisa feita pelo Construction Industry Institute (CII) apontou que até 58% do tempo total de produção de uma obra é gasto com atividades que não agregam valor ao produto final. Ou seja, mais da metade do tempo de uma obra é gasto com coisas que não valorizam o imóvel.
Mas tem outro problema:
Esses dados são de estudos em canteiros de obras dos Estados Unidos, que usam até de forma intensiva técnicas de construção pré-fabricada. Além disso, as obras nos EUA usam maquinários, ferramentas e equipamentos que minimizam bastante os desperdícios dentro do canteiro.
Assim, podemos dizer com segurança que nos canteiros brasileiros o percentual de tempo desperdiçado nos canteiros é ainda maior que os 58% apontados pelo estudo do CII.
Agora, o que talvez surpreenda muita gente é a fonte desse desperdício todo. Segundo o estudo, o desperdício acontece em:
- esperas;
- deslocamentos desnecessários;
- retrabalho;
- e outras atividades que não fazem parte do processo de conversão propriamente dito.
Ou seja, a maior parte do desperdício está nas chamadas atividades de fluxo de produção, em que o tempo gasto não é voltado para transformar matéria prima no produto final.
A surpresa maior é porque, durante muito tempo, essas atividades nem faziam parte dos estudos de melhoria de eficiência nas indústrias.
Um olhar novo e mais eficiente para a gestão da produção
Algumas pesquisas acadêmicas apontam que as atividades de fluxo dentro de um canteiro chegam a representar até 80% do total de atividades dentro de uma obra. Além disso, segundo dados do Lean Institute Brasil, a adoção do Lean tem o potencial de reduzir o custo de produção das obras em até 5%. Ao considerar as margens atuais do setor, fica claro que se trata de um valor expressivo.
Mas por que são poucas as empresas que conseguem atingir resultados plenos em sua implementação?
Durante anos aprendemos a produzir e gerir nossas empresas com base apenas nas tarefas de conversão, as que transformam matéria prima em produto final. É aí que entra a grande mudança de paradigma do Lean Construction:
A metodologia Lean Construction nos ajuda a visualizar não só as atividades de conversão, mas também as de fluxo, tais como, transportes, esperas e movimentos. Ou seja, atividades que fazem parte do fluxo produtivo, mas não representam uma conversão de um insumo no produto final.
Estudos em plantas industriais mostram que as atividades de fluxo podem vir a representar até 80% de um processo produtivo. Assim, podemos fazer uma mudança profunda em um canteiro apenas por passar a observar as atividades de fluxo. Aliás, no caso da construção civil, elas podem representar até 95% de um processo produtivo.
Então, até hoje fomos condicionados a enxergar as atividades que representam somente 5% do fluxo produtivo. Percebe o quanto isso limita o real potencial das possíveis melhorias e otimizações que podemos alcançar em nossas obras?
Assim, fica claro que implantar um sistema de gestão de qualidade que leve em conta as atividades de fluxo pode trazer um ganho enorme de produtividade e eficiência operacional.
Conheça os 5 princípios básicos do Lean Thinking
Agora que você já entendeu o que é Lean Construction e como ele é importante para o setor da construção, é essencial que entenda também os 5 princípios básicos que o norteiam. A lista a seguir contém cada um dos princípios:
1. Valor aplicado à construção civil
O primeiro princípio do Lean Thinking é o valor, por um bom motivo: você precisa otimizar ou eliminar tudo o que não agrega valor ao cliente final. Assim, a visão de todos os envolvidos na obra fica muito mais “afiada” para encontrar desperdícios e trabalhar no que é mais importante.
Por exemplo: uma mudança que observei no mercado imobiliário nos últimos anos tem a ver com o que o cliente final considera como luxo, e pelo que está disposto a pagar mais. Se antes os ambientes amplos, com revestimentos pesados e nobres eram sinal de luxo, hoje espaços compartilhados, tecnologia e experiência de uso ganharam espaço.
Isso muda tudo, desde a forma como um imóvel é planejado até a forma como é construído. Afinal, partindo da visão do cliente fica muito fácil de se enxergar os processos desnecessários e eliminá-los do fluxo produtivo.
Dentro do Lean Thinking também existe um conceito de cliente interno. A ideia é que todos os envolvidos na cadeia de produção, mesmo que não estejam envolvidos com o cliente final, tenham a mentalidade de criar valor e combater o desperdício.
2. Fluxo de valor na construção civil
O próximo passo é identificar o Fluxo de Valor, ou seja, dissecar a cadeia produtiva e separar os processos em três tipos:
- os que geram valor;
- aqueles que não geram valor, mas são importantes para manter os processos e a qualidade;
- aqueles que não agregam valor e devem ser eliminados imediatamente.
Podemos dividir esse processo em 3 etapas, no qual a primeira envolve mapear o fluxo atual de produção. Já a segunda inclui identificar os bloqueios que atrapalham o processo e precisam de ajustes, e a terceira é o desenho do novo fluxo, com as melhorias necessárias.
De uma forma prática, minha sugestão é:
Vá ao “chão de fábrica” (prática chamada de Gemba pelos gestores que utilizam o Lean) e inicie o mapeamento com atividades que têm maior impacto no processo produtivo. Ou seja, comece pelas tarefas que fazem parte do caminho crítico do cronograma da obra.
3. Fluxo contínuo
O princípio do Fluxo Contínuo consiste em aplicar no fluxo de produção (em sua totalidade ou somente nas etapas críticas) o plano de ação definido na etapa anterior.
A ideia é ter um fluxo estendido e interligado entre todas as etapas do processo produtivo, para dar fluidez ao processo como um todo, sem pensar em um trabalho separado por setores.
Em geral, a indústria aplica o fluxo contínuo usando metodologias como o Just In Time, mas na construção civil é preciso fazer algumas adaptações. Apesar de o fluxo contínuo eliminar etapas desnecessárias no processo construtivo, ainda é preciso lidar de forma rápida com as mudanças na demanda do mercado.
Para isso, ferramentas como a linha de balanço são muito úteis, pois permitem manter o ritmo da construção alinhado à demanda do mercado dentro do conceito do fluxo contínuo.
4. Produção puxada
Em resumo, podemos afirmar que existem 2 modos principais de se organizar uma lógica de produção:
- sistemas empurrados
- sistemas puxados
Processos empurrados são aqueles onde a produção é realizada com base em projeções de demanda do cliente. Já os processos puxados são aqueles onde a produção é realizada com base na demanda real do cliente.
Perceba que em ambientes empurrados existe uma grande chance de ter grandes estoques de produtos em processo e concluídos. É assim que muitas empresas organizam a sua produção para aumentar a eficiência e reduzir o custo de produção por peça em cada etapa de seu processo. Ou seja, o foco está nas eficiências locais e não no resultado global.
O ideal do fluxo contínuo somado ao princípio da produção puxada é ter como resultado o Just in Time: um pedido de um cliente dispara o processo produtivo da fábrica garantindo que seja “produzido somente o necessário quando necessário”.
Mas visto que na construção civil é muito arriscado trabalhar com estoque zero, surgiu o conceito de reposição puxada. Isto é: para cada etapa há um “pequeno armazém”. Quando um novo processo inicia e tira um item do armazém, há uma ordem para produzir a reposição.
5. Perfeição
A implementação do Lean Construction deve fazer parte de um espiral constante de evolução na busca da perfeição. A grande motivação de todos os envolvidos está bastante relacionada a essa constante possibilidade de propor melhorias, implementá-las e medir os resultados.
A consciência de que em um primeiro Mapeamento de Fluxo de Valor não será suficiente para resolver todos os problemas já ajuda a manter essa mentalidade. Além disso, lembre-se que é preciso iniciar com algumas etapas críticas da obra para atingir uma estabilidade básica do sistema. Só a partir disso é que dá para conectar aos poucos as diversas etapas em um regime de fluxos até atingir uma padronização inicial.
Por fim, para que a jornada rumo ao Lean Construction gere resultados no longo prazo é essencial que todos na empresa se envolvam.
No fim das contas, é preciso ver o combate ao desperdício e as atividades diárias sempre pela perspectiva do cliente e fazer com que isso chegue até o nível operacional dentro do canteiro.
Afinal, a grande virada nos resultados vem quando os operários passam a enxergar os desperdícios e se envolvem com a meta de evolução do sistema produtivo.
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